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Dragão

A palavra dragão (em inglês, dragon) vem do grego drákon, δράκων, que deriva do verbo derkomai, "olhar", pois seu papel no mito grego é o de vigiar tesouros cobiçados. O nome tem sido dado a criaturas mitológicas muito diversas, de diferentes culturas.

No Ocidente como no Oriente, o dragão é mais freqüentemente uma serpente ampliada, com número variável de asas, cabeças, patas e chifres e enriquecida com atributos de outros animais para se tornar mais temível, mas o conceito do dragão pode ter combinado outras inspirações: crocodilo, salamandra, lagarto, relâmpago ou mesmo animais extintos. Ossos de ursos das cavernas podem ter sugerido lendas européias sobre dragões a se esconder nesses lugares. Na China, fósseis de elefantes, rinocerontes, cavalos, gazelas e mesmo dinossauros ainda são vendidos como "ossos de dragão" e usados na medicina tradicional.

Dragões Ocidentais[]

A concepção mais antiga no Ocidente é a do dragão como serpente gigante, sem patas ou asas. Os antigos

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Representação do estandarte romano do draco na Coluna de Trajano

gregos e romanos descreviam os dragões como enormes serpentes, como era o caso do guardião da fonte de Tebas morto pelo herói Cadmo e do dragão da Cólquida, adormecido por Medeia para que Jasão pudesse roubar o tosão de ouro. E também de Ládon, o dragão de cem cabeças que guardava os pomos de ouro no Jardim das Hespérides.

A concepção romana evoluiu a partir da grega, combinada com elementos do Oriente Médio - como o musrussu de Babilônia -, ampliando o sincretismo que caracterizou a cultura helenística e cristã. O Apocalipse, por exemplo, descreve Satã como "um grande dragão cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres" em cerca de 100 d.C.

No Império Romano, cada coorte tinha um signum (estandarte militar) particular e depois das guerras Dácias e Partas de Trajano no oriente, o estandarte do dragão (Draco), passou a ser usado nas coortes Sarmatarum (Sármata) e Dacorum (Dácia), ou seja, as coortes de cavalaria. Provavelmente era de origem iraniana: segundo a Historia Augusta, havia Persici dracones no tesouro quando Aurelianus reconquistou Palmira (272 d.C.). Pinturas coptas do século V, referentes à ocupação sassânida do Egito, mostram essas forças carregando dracos.

draco era um grande dragão (de comprimento aproximadamente equivalente à altura de um homem) fixado na ponta de uma lança, com grandes mandíbulas abertas de prata e o resto do corpo formado de seda colorida. Com as mandíbulas abertas para o vento, o corpo de seda inflava-se e ondulava, assemelhando-se a uma biruta. Mais tarde, a partir do final do século III, foi usado também pela infantaria.

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São Jorge e o Dragão, de Paolo Uccello, 1460

Esse signum é descrito em Vegetius Epitoma Rei Militaris, 379 d.C. (livro II, capítulo XIII, De centuriis atque vexillis peditum):

Primum signum totius legionis est aquila, quam aquilifer portat. Dracones etiam per singulas cohortes a draconariis feruntur ad proelium
"O primeiro signo da legião inteira é a águia, portada pelo aquilífero. Além disso, dragões são levados às batalhas por cada coorte, pelos draconários".

É possível que esse dragão parta romanizado tenha uma distante origem chinesa. De qualquer forma, foi usado por vários comandantes romanos como símbolo pessoal, inclusive Constâncio III (poder por trás do trono do imperador Honório na década de 410 e co-imperador em 421), cujo estandarte, como Magister da cavalaria, era um dragão de púrpura. Constâncio III pode ter sido confundido com (ou imitado por) algum líder bretão do século V que tenha sido a base para a lenda do rei Artur, e seu estandarte a base para o dragão heráldico de Gales. O epíteto de Uther Pendagon, o lendário pai de Artur, significa "dragão chefe" ou "dragão cabeça" (que, segundo a lenda, teria adotado ao ver um cometa em forma de dragão).

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Bandeira de Gales

Nas Etymologiae, a primeira enciclopédia escrita na Idade Média (entre 599 e 636 d.C.) o bispo Isidoro de Sevilha ainda descreve o dragão como "a maior das serpentes", encontrada na Índia e África. Não é venenosa, mas mata até elefantes prendendo-lhes os pés com a cauda e sufocando-os com seus anéis. Parece uma descrição exagerada das pítons, as grandes serpentes constritoras da África, Ásia e Austrália análogas às nossas jibóias. Aliás, é possível que a palavra anaconda - o nome pelo qual a sucuri é conhecida em inglês e espanhol - originalmente se aplicava à píton asiática e talvez derive do tâmil ánai-konda, "mata-elefante".

Em séculos posteriores da Idade Média, os dragões foram mais freqüentemente representados com duas asas e duas patas, tanto nos brasões como em ícones, afrescos e iluminuras, do século XIV ao famoso quadro São Jorge e o Dragão de Paolo Uccello (1460). Mas há muitas iluminuras medievais que representam dragões com quatro asas e quatro patas, ou com duas patas e sem asas.

O paradigma ocidental moderno, o dragão de quatro patas e duas asas, foi introduzida nas moedas inglesas e (em

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Dragão de 4 asas em bestiário inglês do século XIII

vermelho) na bandeira de Gales pelo galês Henrique VII Tudor em 1485, quando derrotou Ricardo III de York. Só depois tornou-se a mais comum na arte ocidental. Para distingui-la da versão hoje mais popular, os heraldistas de língua inglesa passaram a referir-se à figura de duas patas como wyvern e à de quatro patas como dragon (dragão).

Entre as mais famosas lendas medievais sobre dragões contam-se:

Beowulf: o herói anglo-saxão mata um dragão do qual um de seus homens roubou uma taça de ouro, mas morre dos ferimentos.

Dragão de São Jorge: um reino da Líbia sorteava virgens para serem sacrificadas, vestidas como noivas, a um dragão. A escolha recaiu sobre a filha do rei e este ofereceu seu tesouro e metade do reino a quem a salvasse. Informado, o capadócio São Jorge fez o sinal da cruz e conseguiu ferir o dragão. Fez, então a princesa amarrá-lo com uma cinta de flores e conduzi-lo à cidade, onde o matou em troca da conversão do rei e do povo ao cristianismo.

Fafnir: um anão que a cobiça transformou em dragão (provável inspiração para o Gollum de Tolkien), que é morto pelo herói nórdico Sigurd (Siegfried para os alemães) que assim se apodera do seu tesouro e do Anel dos Nibelungos. Além disso, ganha invulnerabilidade ao se banhar em seu sangue e aprende a língua dos pássaros ao levá-lo à boca.

Dragão de Lancelote: O cavaleiro da Távola Redonda enfrenta um dragão escondido em uma tumba para cumprir uma profecia que promete ao vencedor gerar um leão (Galahad) com a filha de um rei (Elaine).

Dragões do Oriente Médio[]

O mais antigo dos dragões guardiões é o deus sumério Ningishzida, anterior a 2100 a.C. Era o deus da cura e também a constelação da Hidra, que parece se enrolar em torno do pólo celeste. O nome significa "guardião da boa árvore", que tanto pode ser a árvore da vida quanto o eixo da ordem do universo.

Ningishzida parece ser o precursor deus grego da cura, Asclépio (o romano Esculápio), cuja serpente enrolada em um cajado ainda é um símbolo da medicina. A serpente do Éden pode ser também derivada do deus sumério, ao qual um mito dá um papel parecido, ainda que de moral oposta.

O pescador Adapa, devoto do sagaz deus Enki, quebra as asas do vento sul e é convocado pelos deuses a se explicar. Seu deus lhe diz para não comer o que lhe oferecessem. O deus supremo An, impressionado pela sabedoria, diz a Ningishzida para lhe oferecer "o pão e a água da vida", mas o mortal se recusa, perde a oportunidade de se tornar um deus e é expulso do paraíso.

Ningishzida pode ser representado por uma serpente comum, por uma serpente com chifres, por duas serpentes entrelaçadas como no caduceu do Hermes grego, por um homem com duas serpentes saindo dos ombros. Ou ainda por uma figura com chifres, corpo e cauda de serpente, patas dianteiras de leão e patas traseiras de águia, que faz pensar no "dragão europeu" reinventado na Idade Moderna, mas também o grifo heráldico e a concepção bíblica de que a serpente só foi condenada a se arrastar depois de banida do Éden.

Alguns séculos mais tarde (entre 2000 a.C. e 1700 a.C.), o egípcio Apep (para os gregos, Apófis), é uma gigantesca serpente aquática que, tenta engolir a barca de Ra, o Sol, durante sua passagem pelo mundo subterrâneo. Vários deuses a enfrentam, mas o único que consegue derrotá-la é Set, que após a vitória se torna arrogante e acaba expulso da barca.

Outra imagem negativa do dragão (cerca de 1100 a.C.) vem de Babilônia. O casal formado por Apsu, a água doce e pela dragoa Tiamat, a água salgada do mar, gerou os demais deuses, mas depois conspira para livrar-se deles. Um de seus descendentes, Ea (versão semita de Enki) mata Apsu e Tiamat vinga-se criando um exército de monstros para combater os deuses, entre os quais o dragão Mushussu ("serpente furiosa"). O deus Marduk mata Tiamat e corta seu corpo em dois. Com a metade dianteira faz o Céu, com a traseira, a Terra.

Muitos outros mitos seguem modelo semelhante, sejam ou não inspirados em Tiamat: o grego Zeus derrota o deus-dragão Tífon, o hitita Iskur mata a serpente Illujanka, o indiano Indra destrói Vritra, o nórdico Thor e a imensa Jormungand aniquilam-se no crepúsculo dos deuses e o cananeu Baal vence Lotan, a serpente de sete cabeças conhecida pelos hebreus como Leviatã ("enrolado") e pelos cristãos como a "Besta do Apocalipse".

Dragões do Extremo Oriente[]

No Oriente, há "dragões maus", como a serpente de oito cabeças Yamata-no-Orochi, que o deus japonês

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Dragão chinês, xilogravura do século XIX

Susanoo embebeda e mata para salvar a jovem Kushinada, com a qual se casa e em cuja cauda encontra a espada Kusanagi, que se torna um dos tesouros da casa imperial do Japão.

Muito mais conhecido é, porém, o dragão benigno, símbolo do imperador da antiga China e conhecido também no Japão, na Coréia, no Vietnã e no Butão, cujo nome nativo, Druk-Yul, significa "terra do dragão".

A mais antiga representação oriental do dragão, descoberta em Erlitou em 2005, é uma serpente de turquesa de 1700 a.C., associado à primeira dinastia chinesa, a Xia. Segundo alguns, ao conquistar outros clãs, ela teria incorporado seus símbolos à sua serpente - chifres de veado, escamas de carpa e garras de tigre, por exemplo. Outros sugerem que o nome mandarim do dragão, long, deriva de uma onomatopéia do trovão e que sua inspiração original foi o relâmpago, à qual vários povos chineses acrescentaram traços de animais familiares.

Outra teoria cita representações semelhantes a um crocodilo da dinastia Shang, sucessora da Xia, para sugerir uma origem crocodiliana. No passado existiram na China o falso gavial e o grande crocodilo marinho do Índico e Pacífico (também apontado como inspiração para a descrição bíblica do Leviatã) e ainda hoje uma espécie de jacaré luta contra a extinção no rio Yangtsé.

Em todo caso, o dragão oriental, hoje representado com corpo de serpente, quatro patas e chifres e sem asas, é símbolo de vigor, de fertilidade, de chuva, do poder expansivo yang, opondo-se ao tigre, símbolo da morte e da energia yin. A dança do dragão pede chuva, fertilidade e prosperidade nas festas de ano novo e casamentos. Os reis-dragões guardam tesouros no fundo do mar, mas são menos avarentos que seus parentes ocidentais e chegam a dar filhas em casamento a visitantes que os agradam.

Dragões das Américas[]

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Quetzalcóatl

O deus conhecido como Quetzalcóatl pelos astecas é às vezes visto por ocidentais como uma espécie de dragão. Representado por uma cascavel emplumada com as valiosas penas verdes do pássaro quetzal, era um senhor benévolo da fertilidade, da chuva e da estrela da manhã.

Sob diversas formas, é o vento (Ehécatl), o sol (Nanahuatzi), o planeta Vênus (Tlahuizcalpantecuhtli ou Xólotl). Seu culto se estendia por todo o antigo México. Os maias o veneravam com o nome de Kukulkán. Encontram-se figuras de serpentes emplumadas na arte indígena da América do Norte e Central, dos mounds do vale do Ohio e do Mississipi até a Nicarágua.

Referências[]

  • Robert Vermaat, "The Draco, the Late Roman military standard" [1]
  • Wikipedia (em inglês): European dragon [2]

Veja também[]

Anfíptero

Draco

Lindworm

Tarasque

Uróboro

Wyvern

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